VIANINHAArquiteto de ideais

por Ana Beatriz Duarte

Oduvaldo Vianna Filho construiu o Centro Popular de Cultura (o CPC) da UNE (União Nacional dos Estudantes), o Chapetuba Futebol Clube, o Teatro de Arena, o Opinião e a comédia de costumes da televisão. Mas não ergueu os prédios, como esperava fazer ao optar por Arquitetura no Vestibular que prestou para a Universidade de São Paulo. Fundou, bem mais do que isso, as instituições que os edifícios abrigavam.

Foi impossível ignorar a carreira do pai - de cujo nome se diferencia pelo carinhoso diminutivo - que o havia levado a trabalhar em um de seus filmes pela primeira vez quando o filho tinha apenas 3 meses de idade (Bonequinha de Seda). Abandonou a faculdade e decidiu ser ator, ingressando no Teatro Paulista de Estudantes. Já tinha participado de outros filmes: Escola de Samba, Alegria de Viver, O Desafio, e Cinco Vezes Favela. Com apenas 21 anos, escreve sua primeira peça, Bilbao, Via Copacabana. No ano seguinte, Chapetuba Futebol Clube, com a qual obteve os prêmios Saci, Governo Estadual e Associação dos Críticos de Teatro do Rio.

No Teatro de Arena, passa a trabalhar ao lado de Antônio Callado, Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal e Flávio Migliaccio, figuras centrais do teatro que questiona a realidade nacional. A vocação crítica casou para sempre sua obra e suas convicções políticas. Age como um dos idealizadores dos CPCs, que visam divulgar a cultura e os ideais contestatórios ao regime. Em 64, funda o Opinião, teatro cujo show de abertura escreveu juntamente com Paulo Pontes e Armando, os mesmos companheiros na TV Globo durante os dois últimos anos de sua vida.

A entrada de um autor eminentemente teatral para uma emissora de tevê não aconteceu sem críticas. Além da censura de direita, Vianinha, já conhecido por textos como Se Ficar o Bicho Pega, Se Correr o Bicho Come e Rasga Coração, teve que enfrentar a "patrulha ideológica" dos intelectuais comunistas com quem partilhava ideais nos bares do Leblon, no Rio. Ironicamente, era acusado de "estar cedendo". Mas ele não ouviu as críticas e, entendendo o potencial deste veículo de comunicação, escreveu alguns episódios de Caso Especial e o sitcom A Grande Família que se tornaria um divisor de águas na história da televisão brasileira.

A temporada na tevê foi, no entanto, a época de menor produção do autor. Já doente em 73, quando começou a trabalhar na Globo, ele enfrentou um difícil batalha contra um câncer, que finalmente o venceu no dia 19 de julho de 1974. Tinha 38 anos.

Persona non grata por vários segmentos sociais enquanto estava vivo, Vianinha é hoje aclamado como um maiores dramaturgos brasileiros, herói da liberdade e responsável por uma pequena revolução da linguagem teatral e televisiva.

Para saber mais, leia: Vianinha, cúmplice de uma paixão, de Dênis de Moraes.