Conta Outra - Coluna de Paulo Duarte

Vai estrear em Março, em São Paulo, uma peça de Paulo Duarte, chamada “Inimigos Íntimos”, estrelada por Nuno Leal Maia e Silvinha Faro, da MTV.

PAULO DUARTE
Você pode se comunicar com Paulo Duarte pelo e-mail padu58@terra.com.br

História da Semana:

Dentro do programa "Os Trapalhões", já falei aqui, havia uma sitcom chamada Trapa-Hotel, e tínhamos, no elenco principal, uma menininha de quatro anos, a Alexandra Aguiar, que era um encanto. Quando entrava em cena, todos paravam para vê-la atuar, de tão graciosa que era. Pois bem, nessa época, era 1992, o diretor pediu para que eu escrevesse uma história de vampiros, pois a novela Vamp, com o Ney Latorraca - que volta agora com uma continuação - fazia um grande sucesso e a vampiragem estava em moda. Na história, o hotel recebia alguns vampiros para um congresso e os morto-vivos acabaram entrando em algumas confusões com os nossos heróis trapalhões. Lá pelas tantas, tinha uma cena em que a Alexandra deveria contracenar com o vampiro chefe, que era feito pelo Gerson Brenner. Mas quem disse que a menininha entrava no set de gravação? Ela estava apavoradíssima, pensando que o Gerson era um vampiro de verdade. Não tinha Cristo que a convencesse que o ator apenas representava. E, claro, não havia como mudar a cena, pois o diálogo da menina com o vampirão tocava a história para a frente. Até que o trapalhão Mussum teve a feliz idéia de vestir a atriz-mirim também como uma vampira, idéia que foi imediatamente aceita por todos. E foi feito. Vestiram a Alexandra como uma verdadeira menina-morcego e ela arrasou nas cenas de vampiragem, com direito a chupão no pescoço do Didi Mocó e tudo. Em televisão é isso: para gravar com crianças, tem que se ter muito jogo de cintura.

Semanas Anteriores:

No final dos anos setenta a cidade do Rio de Janeiro sofreu uma mudança brusca de temperatura e o mar ficou revoltadíssimo, provocando uma ressaca monumental que atraiu a todos para a orla, a fim de apreciarem o fenômeno. Eu, que sempre fui movido pela curiosidade, não fiquei de fora, e fui lá para a Vieira Souto, em Ipanema, assistir aquela movimentação toda. Fiquei, é claro, a uma distância bastante segura, pois havia o risco de alguém ser engolido por uma daquelas vagas e desaparecer no mar agitado. De repente, aconteceu o que todos temiam: uma das ondas, furiosíssima, irrompeu a proteção de pedras, invadiu a avenida e acabou atropelando um fusca que passava, jogando-o contra a portaria de um dos prédios luxuosos do outro lado. Todos correram para ver se alguém tinha se machucado e, para surpresa geral, deram de cara com o Raul Seixas, assustadíssimo e molhado, na direção do carro. O cantor, com os olhos arregalados, sem fala, ainda não tinha se dado conta do que acontecera. O Hugo Bidet, conhecido ator da época, que chegava no local, tratou de arranjar um copo de água com açúcar e entregou para ele. Já mais calmo, Raul agradeceu a água e a preocupação de todos e foi embora, com o carro bastante avariado. O Hugo, que também era conhecido pelas tiradas espirituosas, comentou com alguém: -"Rapaz, essa é a primeira vez que eu vejo, em plena rua, alguém ser atropelado por uma onda. E é claro, só podia ser o maluco do Raulzito."


Em 1971, em um jogo contra um time do interior de Minas, o jogador do Atlético Mineiro Ronaldo foi até a linha de fundo e cruzou a bola para Dadá. Assim que a bola saiu dos pés de Ronaldo, ele virou para a torcida e começou a comemorar o gol de braços abertos. Dadá Maravilha subiu de cabeça e marcou o primeiro dos seus cinco gols naquela partida. Questionado pela imprensa por que Ronaldo saiu comemorando o gol antes mesmo dele acontecer, o jogador explicou que Dadá nos vestiários teria avisado: "Se cruzar a bola para a área com Dadá lá dentro, podem sair comemorando que é gol."


Chico Anysio havia ganho um programa na Globo onde pouco apareceria, pois estava se restabelecendo de um acidente que lhe deixou com os movimentos labiais comprometidos, quase não podendo falar. Mas o programa era dele e por isso o humorista ia sempre às gravações para ver de perto o que estava rolando. Até que certo dia recebeu um convidado, César Maia, o Prefeito da cidade, figura respeitadíssima, que deixou todos tensos no set. O político era, dentro do programa, o convidado do "Caretano Zeloso", personagem do João Cláudio, e seria entrevistado por ele. Até que, em certo momento, a câmera teria que flagrar César Maia dormindo, por causa da ladainha do âncora. O diretor gravou a cena quase inteira, até a hora em que César Maia teria que fingir que estava dormindo. E deu a ordem ao assistente de palco, pelo fone de ouvido, para que ele pedisse gentilmente ao Prefeito para fazer a sua cena. O rapaz, que era novato e queria mostrar serviço, soltou o grito: - "Ô da Prefeitura, finge aí que tá nos braços do Orfeu!" O silêncio foi geral, o Chico querendo estrangular o desastrado. César Maia, no entanto, bom político que era, simplesmente fez o que o rapaz mandou e a cena ficou excelente. Pena que, mais tarde, a Dona Marluce, sei lá porque cargas d´água, cancelou o programa, que prometia bastante.


A figurinista do programa "Os Trapalhões", minha amiga Alice Gondá, convidou-me para a festa de aniversário de sua filha pequena, que seria comemorada em sua casa de Laranjeiras, no Rio. Era o ano de 1991. Eu, que ciceroneava um amigo de Fortaleza e vivia com o sujeito a tiracolo para baixo e para cima, perguntei à Alice se ele podia ir também, pois não queria deixá-lo sozinho, uma vez que o rapaz não tinha qualquer outro amigo no Rio. Alice, claro, concordou, mesmo não o conhecendo direito. E, no dia da festa, fomos, eu e esse amigo, para a casa da figurinista. Lá pelas tantas, Conrado, o cantor, se aproximou da Alice e perguntou quem era o sujeito que estava sentado num banquinho, na cozinha, fazia horas. Ela foi ver e reparou que era o cearense. Alice chegou então para mim, reclamando: -"Paulinho, você tem cada amigo, hein? O rapaz que você trouxe está lá na cozinha, sentado num banquinho, e não há quem o convença a vir para a sala. Nunca vi sujeito mais tímido na minha vida." Eu, meio sem graça, fui até lá, tentando convencê-lo a se juntar ao grupo, mas não teve jeito. E voltei para a festa. Hoje, passados alguns anos, de tímido esse meu amigo já não tem mais nada, a julgar pelo sucesso que faz. Tanto que é considerado um dos melhores humoristas do Brasil. Seu nome? Tom Cavalcanti.


Agnaldo Rayol, considerado um dos maiores intérpretes da música romântica no final dos anos 60 e parte dos 70, foi, na década seguinte, jogado no ostracismo. E assim estava, esquecido do público e da mídia, quando foi convidado, no início dos anos 80, a gravar um videoclip para o Fantástico, numa tentativa dos produtores de revitalizarem a sua carreira. No dia da gravação, no Teatro Fênix, enquanto esperava, um dos donos da agência de figurantes, que levara um grupo de pessoas para participar do quadro, precisou telefonar para a esposa e desceu até o saguão, onde tinha um orelhão (na época nem se pensava ainda em telefones celulares). Na conversa, ele falou à mulher, e para quem mais quisesse ouvir, que ia demorar para chegar em casa, pois o clip a ser gravado era complicadíssimo, e que, na opinião dele, a Globo se equivocara "investindo tempo e dinheiro num cantor morto e acabado como o Agnaldo Rayol". E continuou por mais um bom tempo destilando o seu veneno contra o artista. Quando finalmente acabou de falar os seus impropérios, o rapaz virou-se e entregou o telefone para a pessoa que estava logo atrás dele, na fila. Era o próprio Agnaldo Rayol que, elegantemente, agradeceu. O sujeito ficou tão sem graça que durante o resto da gravação não apareceu mais no estúdio.


Ainda nos tempos da Atlântida, numa cidade no interior do Rio de Janeiro, Oscarito filmava mais uma de suas famosas chanchadas. Num final de tarde, depois de um dia puxadíssimo de trabalho, ele e outros colegas resolveram dispensar o carro da produção e foram a pé para o hotel. No caminho viram uma casa enorme, com o portão aberto, parecendo abandonada. Na frente da casa, um gigantesco pé de jabuticaba. Já estava anoitecendo, mesmo assim eles decidiram entrar no pátio, foram pegando as jabuticabas e comendo ali mesmo, sem lavá-las, pois não tinha qualquer água por perto. Oscarito, porém, estranhou o gosto da frutinha. - "Engraçado... vocês não acham que essas jabuticabas tão meio amarguinhas?" Todos concordaram que elas estavam realmente com um gosto estranho. Mesmo assim continuaram a comê-las até se fartarem. No dia seguinte eles voltavam para o set de filmagem, pela mesma estrada, quando viram alguém na casa. Decidiram ir lá se desculpar, dizendo que comeram as frutas porque pensaram que a casa estivesse abandonada, coisa e tal. O dono, se mostrando amistoso, disse não se importar. Mas fez uma ressalva. - "Podem comer as jabuticabas à vontade. Mas cuidado, que as galinhas todas dormem na árvore e costumam fazer cocô nelas".


Na última Semana Santa, em Tremembé, interior de São Paulo, a Prefeitura Municipal organizou a encenação da Paixão e Morte de Cristo, como já é tradição local, e a cidade, como sempre, ficou com gente saindo pelo ladrão. Quem fazia o papel de Jesus era o ótimo Alexandre Santos, ator de Taubaté, município vizinho, mas que era desconhecido da maior parte do público. Para dar um toque de grande espetáculo, convidaram Rodrigo Faro, galã da tv Globo, para viver Pôncio Pilatos. Nem é preciso dizer que a maioria dos presentes era composta por adolescentes apaixonadas, que foram ali apenas para ver o ídolo. Na hora em que Pilatos falou que "lavava as mãos", permitindo que Jesus morresse na cruz, ao invés das mocinhas sofrerem pela sorte do Messias, como era de se esperar, elas começaram a gritar freneticamente para o ator global: "Lindo!... Eu te amo!... Gostoso!... Maravilhoso!..." É claro que os mais conservadores ficaram constrangidíssimos com aquela demonstração de, digamos, carinho pelo algoz de Jesus, que só faltaram gritar "Mata!". Mas boa parte acabou se divertindo com a situação surrealista, inclusive o próprio Alexandre Santos, o Cristo.


O dia 5 de julho de 1982 foi, com certeza, um dos mais tristes para todos os brasileiros. Quem tem mais de trinta anos não vai esquecer jamais aqueles três gols do Paulo Rossi, que eliminou o Brasil, a melhor seleção que tivemos depois de 70, da Copa do Mundo da Espanha. Era uma segunda-feira, dia de gravação do programa "Viva o Gordo". No apito final do jogo, o Jô Soares, que assistiu a partida juntamente com a equipe de produção e a técnica, num telão improvisado no estúdio do Teatro Fênix, estava, como toda a nação, revoltadíssimo com a derrota. Mas o show tinha que continuar. O Max Nunes e o Hilton Marques, redatores do programa, correram para a sala de produção para escrever o texto do "Zé da Galera", personagem do Jô criado especialmente para a Copa do Mundo. O quadro seria gravado imediatamente e posto no ar ainda naquela noite. Texto pronto, equipe a postos, o Jô, de Zé da Galera, começou então a "falar com o Telê", de um orelhão cenográfico, como sempre fazia. Como na semana que antecedeu a derrota histórica para os italianos, o Telê tinha sido convidado para dirigir um time da Arábia Saudita, o Jô cismou de incluir no texto um "Vai a Meca, Telê!". Todo mundo adorou, menos o Max, achando que a frase seria grosseira. O Jô pediu, implorou para que o Max liberasse a brincadeira, mas o redator não quis conversa. E o "Vai à Meca, Telê!" acabou não indo ao ar. Para mim, que estava começando a dar os primeiros passos na redação televisiva, aquilo foi uma aula de bom-senso. Afinal, apesar de toda a raiva que o país estava sentindo do Telê naquele momento, o Max não perdeu a elegância.


O Wilton Franco me chamou para escrever com ele o novo "Gente Inocente", cujo apresentador - já estava decidido - seria o Ruan Alba, o ator paulista que ficou conhecido, depois, como o cocheiro galã da Ângela Vieira, na novela "Terra Nostra". Wilton já o conhecia dos tempos em que trabalharam juntos na TV Bandeirantes, eram amigos, e achava que o rapaz seria o ideal. Mas, assim que foi testado, o diretor percebeu que Juan, apesar da bela aparência, da empatia que tinha com as crianças e da torcida de todos, não rendeu o suficiente. Pressionado pelo tempo, pois tinha que entregar logo o "piloto" do programa para a dona Marluce, Wilton estava preocupado. Não conseguia pensar em mais ninguém que pudesse ser o apresentador. No meio de uma calorosa discussão, depois de vários nomes terem sido sugeridos e descartados, eu vejo, na tv que estava ligada sem som, uma reportagem no "Vídeo-Show", onde aparecia o Márcio Garcia. Uma intuição me bateu e eu falei para o Wilton: -"Por que não ele?". O Wilton pensou, coçou a cabeça: - "Não sei. Esse rapaz parece fraco". Foi então que a Cláudia Braga, produtora de elenco, endossou a escolha: -"O Márcio é muito bom sim, Wilson. Além de ser bonitinho, ele é charmoso e se dá muito bem com as crianças, que eu sei". O diretor acabou se convencendo e resolveu testá-lo, e hoje o Márcio está aí, fazendo o maior sucesso como o apresentador da "primeira idade".


Essa história me foi contada pela Alcione Mazzeo, que foi casada com o Chico Anysio durante muitos anos. Diz ela que, lá pela metade dos anos setenta, o humorista fazia um show no Teatro da Lagoa e, na mesma época, lançava o seu 6º livro, com matérias de páginas inteiras nos principais jornais do país. Uma jovem repórter foi então escalada para entrevistá-lo. Lá pelas tantas a moça, entusiasmada com aquele artista tão fantástico, perguntou: - "Chico, você nunca pensou em lançar um livro?" O ator prontamente respondeu: - "Nunca". E deu a entrevista por encerrada.


1992. Era dia de gravação do programa "Os Trapalhões". Eu, como sempre, estava enfurnado dentro do estúdio do Teatro Fênix, no Rio de Janeiro, para acompanhar as gravações de mais uma história que eu havia feito para o "Trapa-Hotel", uma espécie de "sitcom" dentro do programa, escrita por mim e pelo Renato Aragão. Já era mais de cinco da tarde e o Renato ainda não tinha dado o ar da graça, para a aflição de todos da equipe, principalmente do Wilton Franco, o diretor. O Renato não era de se atrasar, e por uma série de informações desencontradas, ninguém sabia ao certo o seu paradeiro. Para ganhar tempo, o Wilton foi tratando de dirigir as cenas onde o Trapalhão não entrava. De repente eu, que conversava com o Dedé, olho e vejo o Renato, que havia chegado sem ninguém perceber, sentado num pedaço de cenário, numa parte mais escura do estúdio. Eu me aproximei e percebi que ele estava com um olhar distante, místico, uma expressão muito diferente da expressão do Renato brincalhão que todos conhecíamos. Ele estava, sem exagero nenhum, em estado de graça. Eu, preocupado, perguntei se estava tudo bem e ele me respondeu, com a serenidade dos monges: "Cara, eu estou flutuando. Nunca me senti tão bem em toda a minha vida". Eu, claro, não entendi bulhufas e nem deu tempo para perguntar mais nada, pois o diretor chegou e o carregou para o camarim, nervoso que estava com o atraso da gravação. E eu não vi mais o Renato naquele dia, pois precisei sair mais cedo para resolver problemas. Mas fiquei com aquela imagem do Trapalhão na minha mente. O que será que tinha acontecido pra ele estar naquele estado de quem atingira o Nirvana? Só dias depois, no Domingo, é que eu fui entender: era a semana do "Criança Esperança" e o Renato, simplesmente, tinha acabado de gravar a famosa cena em que subiu no braço do Cristo Redentor, fazendo o país inteiro chorar. O nosso querido Didi tinha razões de sobra para estar daquele jeito.


Quem conhece o José Lewgoy sabe o quanto ele é mau-humorado e temperamental. Aliás, o ator não faz segredo nenhum desse seu comportamento, e até diverte-se com isso. Ou então toma atitudes, às vezes, surpreendentes. Como certa vez, quando ele saia do prédio da TV Globo, ainda no Jardim Botânico. Todos sabem que o Zé não pode dirigir, vítima de um acidente que sofreu no passado, e por isso anda sempre de táxi. E nesse dia não foi diferente. Ele chegou no ponto de táxis, e antes mesmo de entrar num dos veículos, percebeu que o motorista o reconhecera. Assim que sentou-se, o eterno vilão do cinema nacional foi logo deixando claro: -"Olha, meu amigo, eu sou realmente quem o senhor está pensando. Só que eu detesto conversa fiada, muito menos com quem não conheço. Portanto, limite-se a me levar no endereço tal e não me amole!" O chofer, absolutamente sem graça, deu a partida no carro e foi se dirigindo para o endereço que o Lewgoy pediu, sem abrir a boca. Até que, de repente, ele explodiu numa risada: -"Ah, claro, o senhor estava brincando, não é? E eu que pensei que fosse sério. Esse pessoal de televisão tem cada uma". O Zé ficou furioso, ordenou que o cara parasse imediatamente e vociferou, quase cuspindo fogo: - "Eu não estou brincando não, meu senhor. Aliás, eu nunca falei tão sério em toda a minha vida! O senhor é um chato de galocha!" E saltou, fazendo sinal para o outro táxi que vinha logo atrás. O taxista ficou tão perturbado com a bronca do Zé, que só se deu conta que ele não tinha pago a corrida meia hora depois.


Em 1981, durante a gravação do "Viva o Gordo", estrelado por Jô Soares, surgiu no meio do estúdio do Teatro Fênix, onde era gravado o programa, um ratinho. Era um filhotinho que não metia medo em ninguém, mas o diretor do humorístico, Cécil Thiré, quando viu o pequeno roedor, cismou de matá-lo, dizendo que ele era pequenininho, mas que ia crescer. E os ratos, provocadores de doenças, têm mais é que morrer. E saiu pisando no bichinho, que mesmo sendo filhote de dias, já era bastante arisco e corria de um lado para o outro, se defendendo das pisadas assassinas do Cécil. Até que correu para o meio de um amontoado de cadeiras, que ficavam na beirada do palco, agrupadas umas em cima das outras, e ali se escondeu. Um enraivecido Cécil, porém, não se deu por vencido e chamou o pessoal da maquinária para puxar as cadeiras e, juntos, encontrarem e aniquilarem o inimigo. De repente a Célia Biar, uma das atrizes do programa, viu o apavorado ratinho no meio de uns pedaços de panos, e em vez de gritar, como faria qualquer mulher ao avistar um rato, se condoeu do pobrezinho, pegou-o com todo o cuidado e o guardou no bolso de seu casaco de cena. E ficou o resto da gravação com o seu novo amiguinho ali, escondido em seu bolso, protegendo-o da ira enlouquecida do Cécil. Bom, se existe realmente o céu, com certeza a querida Célia está lá, pois ela mostrou, com aquele gesto, que amava realmente os animais. Mesmo sendo ele um rato.


Era Dezembro de 1992. Tinha uma novela no ar, na Globo, do Walter Negrão, chamada "Despedida de Solteiro". Uma novela "das seis" que fazia bastante sucesso. A Lucinha Lins, que fazia parte do elenco, teve a idéia de montar uma peça de natal com os atores da novela. Na época, eu era o roteirista responsável por um quadro nos Trapalhões, chamado "Empresários Trapalhões", onde o "Didi", dono da agência "Trapa-Tudo", recebia sempre os convidados. Como o quadro também era um sucesso, a Lucinha Lins pediu ao Wilton Franco, então diretor do programa, para fazer uma brincadeira dentro dele, mostrando e falando da peça, pra poder divulgá-la. O Wilton gostou da idéia e mandou a secretária dele me ligar, pedindo que eu fosse assistir ao ensaio, pra fazer uma pauta e escrever o texto. E eu fui. Chegando no local, me apresentei para a Lucinha, que era a diretora, e fiquei por ali, observando o trabalho de todos. Num certo momento, uma das atrizes, uma lourinha linda, praticamente desconhecida na época, mas que também fazia parte do elenco da novela e por isso estava na peça, errou por diversas vezes o texto. A Lucinha foi ficando nervosa, até que perdeu o controle e acabou dando uma bronca homérica na garota, chamando-a de irresponsável, dizendo que, se ela pretendia fazer sucesso algum dia, teria que levar seu trabalho a sério, trazendo sempre o texto decorado, pra não prejudicar os colegas. A lourinha ficou vermelha e abaixou a cabeça, totalmente sem graça. Eu confesso que fiquei querendo fuzilar a Lucinha, pois a menina era uma graça, mas entendi as razões da diretora e fiquei na minha. Bom, eu não sei que fim deu aquela peça, não sei se ela vingou e se foi apresentada em algum teatro, mas a cena da lourinha levando a bronca da Lucinha nunca me saiu da cabeça. 
A propósito, a lourinha chamava-se Letícia Spiller, e hoje está aí, brilhando como nunca.


Na década de 80, quando o Daniel Filho já era, abaixo do Boni, o senhor todo poderoso da Globo, começou um movimento de alguns diretores querendo lutar por mais independência nas produções, pois o Daniel, que era o diretor da Central Globo de Produções, tinha fama de ser muito centralizador, de não dar a liberdade de criação que eles queriam. Um dia eles se reuniram e combinaram de pedir uma reunião com o Daniel para tratar do problema. Estavam decididos a encostá-lo na parede, pressioná-lo, e com isso conquistarem a tão sonhada liberdade de fazer o que bem entendessem com seus programas, minisséries e novelas. Estavam eles reunidos na famosa sala do nono andar do Jardim Botânico (no tempo em que ainda não existia o Projac) à espera do grande momento, todos muito nervosos, a hora ia passando, até que entra o Daniel, e antes mesmo que alguém abrisse a boca, ele já foi falando: -"Desculpe o atraso, pessoal. Vocês conhecem o meu pai, né? O Juan Daniel, que é ator da casa. Eu demorei porque estava tratando da demissão dele. O velho tava reclamando demais e eu detesto gente insatisfeita. Mas qual é mesmo o motivo da reunião? Foi um silêncio total e, claro, todos desconversaram e ninguém teve a coragem de falar a razão de estarem ali. Essa, que deveria ser uma reunião de horas, não demorou mais que cinco minutos. Mais tarde, ficou-se sabendo que o Daniel já sabia do que se tratava a reunião e, claro, inventou essa história da demissão do pai para quebrar o clima. Coisa de gênio, coisa de Daniel Filho.


No começo da década de 80, o Fluminense tinha um timaço. Era composto por Paulo Victor, Aldo, Vica, Ricardo Gomes e Branco; Jandir; Deley e Assis; Washington, Tato e Júlio Cezar Romero, o Romerito. Foi tricampeão carioca em 83, 84, 85 e brasileiro em 84 (em cima do Vasco, o meu time, diga-se de passagem). A partir de 86, o time começou a se desmantelar: Ricardo e Branco foram pra Europa, outros foram para outros times, alguns pararam, a idade chegou, enfim. O folclórico Romerito, no entanto, ficou mais alguns anos, mas já sentindo o peso da idade e a falta de títulos. Num domingo dramático, quando o Fluminense, no Maracanã, jogava uma partida de vida ou morte com o rival Botafogo, Romerito foi vaiado pela torcida por causa de seu baixo rendimento, sendo logo substituído. Na prática, era o mesmo hoje que tirarem o Romário e colocarem o Dedé. Na saída de campo, os repórteres se aproximaram do centroavante, já sabendo que vinha declaração polêmica. Perguntaram se ele estava chateado pela substituição e o paraguaio, na maior tranqüilidade, soltou essa pérola: "Yo quiero é mi dinero!". Ou seja: desde que pagassem o seu salário, ele estava pouco ligando se tivesse em campo ou não.


Brandão Filho, que ficou famoso como o Primo Pobre, do "Balança Mas Não Cai", participou também, durante um bom tempo, do "Viva o Gordo", com o Jô Soares, no início dos anos 80. Certa vez, durante uma gravação do programa, no Teatro Fenix, no Rio, ele tinha que fazer um quadro onde interpretaria um mendigo. Vestiu a roupa esfarrapada do personagem, maquiou-se e ficou esperando a hora de gravar. Nesse momento veio alguém da produção e falou que o cenário ia demorar um pouco mais para ficar pronto. Como ele ainda não tinha almoçado, resolveu ir no Restaurante da esquina das ruas Jardim Botânico com Lopes Quintas, a duas quadras do Fenix, vestido como estava, ou seja: de mendigo. Comeu alguma coisa rápido, e quando voltou para o Teatro, o segurança voôu nele, pegando-o pela gola do casaco: "Ô vagabundo, te manda, que isso aqui não é lugar de pedir esmola!". Se não fossem os colegas do elenco, que correram em seu socorro, o Brandão teria sido jogado na calçada sem dó nem piedade. Coisas que acontecem na televisão.


Em 1982, durante a campanha pelo governo do estado do Rio de Janeiro, o deputado Miro Teixeira, que era o então candidato do PMDB, foi convidado a fazer uma participação no quadro "Fernandinho & Ofélia", do programa "Balança Mas Não Cai" (que agora voltou a ser apresentado no Zorra Total). Como o Miro era o líder das pesquisas, estavam presentes na gravação a alta cúpula da emissora, incluindo o filho do dono, Roberto Irineu Marinho. Logo que começou a gravação, o Fernandinho (Lúcio Mauro) passou a elogiar o candidato, dizendo que ia votar nele porque ele era um homem sério, honesto, trabalhador, e que só falava a verdade. Ouviu-se então uma sonoríssima gargalhada da claque, aquele grupo de pessoas que são pagas para rir nos programas de humor, das quais já falei aqui. Foi um mal-estar geral, a gravação foi interrompida e o chefe da claque foi chamado no suíte (sala onde fica a equipe técnica), levando uma bronca federal do diretor. Foi um custo para o rapaz explicar que aquele era o seu primeiro dia no emprego e que ele, nervoso com tantas cabeças coroadas ali presentes, simplesmente tinha errado na hora de dar a ordem para as pessoas rirem, e que não fez aquilo por deboche ou coisa parecida. Passado o susto, o próprio Miro, mais tranqüilo, também acabou rindo da gafe. para a sorte do rapaz, que, a propósito, era eu, esse humilde colunista.


Arnaldo Artilheiro foi, com certeza, um dos mais folclóricos personagens que fizeram parte da criação da Rede Globo. Ele ficou nacionalmente famoso como o mordomo do Primo Rico no "Balança Mas Não Cai". Depois que o programa acabou, ele passou a ser funcionário da Globo e era sempre chamado para resolver as paradas mais duras, devido à sua força e tamanho. O cara era, e é, um gigante. Certa vez ele foi, no auge da ditadura, com a equipe do Jornal Nacional fazer uma entrevista em Brasília com o então Presidente Geisel. Diretor de fotografia a postos, mede aqui, mede ali, o diretor do jornal, lá da unidade móvel, percebeu que o local onde o Presidente estava sentado tinha um problema de iluminação. Ou seja: ele tinha que mudar de posição, para receber a iluminação adequada. E falou, pelo fone de ouvido, que o mandatário do país precisava trocar de lugal. O Artilheiro, que gostava de mostrar serviço, mais do que depressa pegou a cadeira presidencial, com presidente e tudo, e a carregou, no ar, até o ponto que o diretor queria. Foi um silêncio sepulcral no estúdio. Felizmente, Geisel, apesar daquela sizudez toda, percebeu que o funcionário da Globo não fez aquilo por mal e fingiu nada ter acontecido. Para a sorte do Artilheiro.


Mané Garrincha, todos sabemos, foi um jogador excepcional. Mas tem um lado do Mané que nem todos conhecem, que era a sua simplicidade, a maneira como ele se relacionava com as coisas banais da vida, do dia a dia. Em 1962, durante a Copa da Suécia, ele foi presenteado com um rádio. Aliás, um rádio moderníssimo para a época, mesmo sendo na Europa. Só que ele acabou devolvendo o presente. Quando perguntaram por que ele não quis o rádio, ele respondeu, do alto da sua simplicidade: "Tá com defeito. Fiquei um tempão tentando sintonizar a rádio Globo, e nada". Esse era o Garrincha, que encantou o mundo com seus dribles impossíveis.


Luis Gustavo, o Vavá do "Sai de Baixo", apesar do ótimo ator que é, nem sempre teve a simpatia dos diretores, que o achavam muito irresponsável, vivia se atrasando para as gravações, não comparecia, era um problema. Um dia um diretor de novelas, já de saco cheio dos atrasos e faltas do Tatá (como ele é conhecido entre os amigos), reuniu o elenco e falou: "Pessoal, o Tatá já passou dos limites. É todo dia atraso, ele falta, inventa mil desculpas, não dá mais. Mas como ele é um cara legal e todos nós gostamos dele, eu não quero ferir seus sentimentos. Portanto, quando ele chegar, eu vou dar uma bronca em vocês todos, pedindo para que vocês não cheguem mais atrasados, ok? Com isso ele vai se tocar e entrar no esquema". Meia hora depois chega o Tatá, tranquilão como sempre, e o diretor fez como havia combinado, gritando para todos: "Olha aqui, pessoal, eu não quero mais saber de atrasos na gravação! A partir de hoje, todos vocês terão que chegar na hora combinada, porque os atrasos só atrapalham o nosso esquema de trabalho e também a vida dos outros colegas." Nisso o Tatá, com a maior cara de pau, chegou perto do diretor e falou no ouvido dele: "Tá perdendo o seu tempo, chefia. Essa cambada aí não vai aprender é nunca!"


Na linguagem televisiva, "dália" é aquele cartaz que fica ao alcance dos olhos do ator para que ele possa se socorrer na hora em que esquece o texto. Esse nome, Dália, surgiu depois de um "acidente de cena", muito comum nos tempos da TV ao vivo. Um ator bastante famoso da época, o Fregolente, tinha grande dificuldade em decorar suas falas, por isso ele as escrevia sempre em pequenas cartolinas e as colocava junto a um vaso de dálias, que fazia parte do cenário. Um belo dia, o contra-regra, sem querer, acabou levando o vaso com as dálias e, junto com elas, as cartolinas do Fregolente. Na hora em que o programa foi ao ar, na deixa do Fregolente, ele olhou para a mesa, não viu o vaso e, desesperado, falou, alto e bom som: "ONDE DIABOS METERAM AS MINHAS DÁLIAS?!" E assim que o nome "dália" acabou ficando até hoje.


No Programa "Estúdio A...Gildo", do qual já falei aqui, que ia ao ar no início dos anos 80, participava como modelo uma linda jovem, de seus 16 anos mais ou menos. O diretor Augusto Cezar Vanucci, que ficava dirigindo o programa do palco com um microfone na mão, nunca conseguia lembrar o nome da tal jovem. Ele só a chamava de "Irmã da Isis". Era irmã da Isis pra lá, irmã da Isis pra cá. Um dia Vanucci comentou com o Carlos Imperial, que era uma espécie de conselheiro seu e que ficava sempre por perto: 
— "
Essa irmã da Isis é linda, uma gracinha de pessoa, mas tem um nome esquisitíssimo que eu nunca lembro qual é." A "irmã da Isis" era a Luma de Oliveira.


Olavo Bilac, além do grande poeta que foi, ficou também conhecido como um grande gozador, um cara que perdia o amigo mas não perdia a piada. Certa vez, em Juiz de Fora, ele foi convidado para uma recepção na câmara municipal, onde havia um quadro representando Tiradentes esquartejado. Só que uma das pernas de Tiradentes estava visivelmente maior que a outra. Um dos presentes logo reparou na falha, e mostrou-a ao poeta, que respondeu prontamente: 

- Isso não é falha não, meu amigo. É que Tiradentes foi pintado justamente no momento em que "espichou" a canela.


Essa aconteceu dia desses. Muita gente viu no ar. Mas pra quem não viu, lá vai... Xanddy, o vocalista do "Harmonia do Samba" pisou na bola feio no programa do Raul Gil. Durante o "Quadro do Banquinho", o apresentador perguntou o que tinha num spa com a letra "e". Sem titubear, o cantor mandou a pérola: "estrutor". E o pior é que a produção aceitou a resposta!!!


Era carnaval. A Globo mandou uma equipe de reportagem para o Scala, no Leblon, para cobrir o baile que rolava por lá. Microfone a postos, o repórter ia entrevistando todos que entravam no Clube, principalmente os famosos, e o camera-man, claro, ia focalizando o entrevistado. Num certo momento, enquanto o reporter conversava com uma bela foliã, que chegava usando um minúsculo fio dental, o diretor gritou, lá de dentro da unidade móvel: -"Câmera-man, bota a câmera na prochaska. Vai, bota a câmera na prochaska". O câmera-man, mais do que depressa, virou a câmera para as "partes" da foliã, dando um belíssimo close. O diretor enlouqueceu: -"Seu imbecil, não é essa prochaska que eu quero. É a atriz". Demorou para o camera-man entender que o diretor queria era que ele focalizasse a Cristina Prochaska, que acabara de chegar.


A claque, para quem não sabe, é um grupo composto de 40 a 50 pessoas que são pagas para rir nos programas humorísticos, e existe desde os primórdios da televisão, principalmente na tv. Globo. Eu me lembro de um momento muito engraçado, no início dos anos 80, envolvendo a claque e o então Deputado-Cacique Mário Juruna, o índio que entrou para a história porque gravava as promessas dos políticos e depois mostrava as gravações cobrando resultados. Por essa razão ele foi convidado pelo Augusto Cezar Vanucci a fazer uma participação no programa "Estúdio A...gildo", estrelado pelo Agildo Ribeiro. Num determinado momento, Juruna tinha que falar uma frase engraçada qualquer, de acordo com o que estava no texto, mas não conseguia dizer a frase seguinte, tendo que repetir a gravação inúmeras vezes, sempre empacando na tal frase. Até que ele não agüentou mais e explodiu, irritadíssimo, falando para o Vanucci: "Ô seu moço, Juruna não vai mais gravá pograma. Tem um monte de gente ali rindo de Juruna". As pessoas que estavam rindo eram a claque, que o Cacique achava que estavam zombando dele. O Vanucci, claro, mandou que a claque ficasse calada, senão a gravação não saía.


Uma jovem repórter ganhou de sua revista a missão de entrevistar a Helô Pinheiro. (Pra quem não sabe, a musa que inspirou Vinícius de Moraes a compor "Garota de Ipanema" na década de 60). Disseram à jovem que a Helô era uma das atrizes do Zorra Total e a repórter foi até o Projac pra conversar com ela. Chegando na portaria, a moça se dirigiu ao recepcionista: "Meu senhor, eu gostaria de falar com a Garota de Ipanema". O rapaz não entendeu. "Garota de Ipanema?" "É... ela é uma das atrizes do Zorra Total. Bem, na verdade ela agora já deve ser uma "Senhora de Ipanema". O José Wilker, que estava ao lado esperando pra ser atendido, não agüentou e soltou uma gargalhada. Não sei se a repórter conseguiu falar com a Helô, mas tenho certeza que tão cedo ela não vai esquecer a gargalhada do Zé.


Dias depois de ter vencido o festival da canção, no final dos anos 60, Caetano Veloso foi fazer um show em Teresina, no Piauí, e acabou dormindo por lá mesmo. No dia seguinte foi com o empresário visitar uma feira de artesanato local, da qual tinha ouvido falar. Estava eles em meio àquelas peças todas, olhando, analisando, quando um rapaz próximo dele comentou com alguém: "olha só, fulano, aquele sujeito ali não é a cara daquele magrelão feioso que cantou na televisão?". Caetano, do alto de sua elegância, claro, fingiu que não ouviu e continuou a sua compra.


Ari Barroso era, sabidamente, um homem extremamente orgulhoso, vaidosíssimo, e não engolia o sucesso que Antônio Maria fazia com a música "Ninguém me Ama". Sempre que alguém perguntava sobre Antônio Maria, o autor de "Aquarela do Brasil" desconversava, visivelmente incomodado, e mudava de assunto. Até que um dia Ari adoeceu, caiu de cama, e recebeu, no hospital, a visita do velho rival. Perguntou-lhe então, quase sem forças: 
— Maria, você sabe cantar a letra de "Aquarela do Brasil"? 
— Claro. Todo mundo sabe. É uma música famosa no mundo inteiro. 
— Canta pra mim? 
E Maria, muito constrangido, cantou. 
— Brasil, meu Brasil brasileiro, meu mulato inzoneiro... 
E cantou quase a música inteira. Assim que terminou, Ari lhe pediu: 
— Pergunta agora se eu sei cantar "Ninguém me Ama", pergunta. 
Ainda constrangido, Maria perguntou: 
— Você sabe cantar "Ninguém me Ama"? 
E Ari respondeu, num tom firme e com um brilho de plena satisfação nos olhos: 
— Não sei!!!


Essa história aconteceu no programa "Flávio Cavalcanti", nos anos 70, que era apresentado ao vivo para todo o Brasil:
O programa era patrocinado pelas bicicletas Monark. Na platéia lotada, entre outros, estava o próprio presidente da Monark, que fora prestigiar a grande final do concurso, que premiava a criança vencedora, com uma bicicleta da marca. Num determinado momento, Flávio Cavalcanti aproximou-se do vencedor, um garotinho de uns oito anos, tendo ao fundo uma música de efeito, para valorizar o momento, e perguntou, solene, se ele estava feliz por ganhar uma Monark novinha. O garoto olhou para a bicicleta, coçou a cabeça e respondeu, com uma carinha frustrada: "a bicicleta é legal. mas não dá pra trocar por uma Calói?"


Certo dia o Moacyr Franco ligou para a casa do Carlos Alberto de Nóbrega e a empregada, que não era loura mas era burra feito uma porta, atendeu. Gozador como ele só, Moacyr apresentou-se como o presidente Getúlio Vargas. A empregada foi até o Carlos Alberto e deu o recado. Conhecendo bem o espírito brincalhão do amigo, o apresentador da "Praça é Nossa" já atendeu sabendo de quem se tratava. Os dois falaram o que tinham que falar, e ficou combinado que Moacyr voltaria a ligar mais tarde para dar uma resposta. E ligou, se apresentando desta vez como Dom Pedro I. A empregada foi de novo até o Carlos Alberto e, na maior inocência, falou: "Seu Carlos, tem um homem no telefone que diz ser Dom Pedro I, mas eu acho que não é ele não. Pela voz é o Getúlio Vargas".


Um famoso diretor de novelas da Globo, muito conhecido por, digamos, ajudar jovens talentos do sexo masculino, entrou certa vez na emissora, com um garotão de quase um metro e noventa a tiracolo. Passando pelo corredor, ele esbarrou com um veterano ator, também muito conhecido do público, e apresentou o protegido: "Fulano, este é o Marcelão, meu sobrinho". Ao ver o rapagão, o ator respondeu, num misto de surpresa e desilusão: "eu já conheço o Marcelão. Ele também foi meu sobrinho mês passado".


Adolfo Bloch, o poderoso presidente da extinta TV Manchete e da Bloch editores, costumava dar incertas nos estúdios, nas salas de redação, onde fosse, para dar flagrantes em funcionários que desrespeitassem as normas por ele criadas. Uma dessas normas era a proibição categórica de se trabalhar sem camisa, mesmo que fosse nas oficinas de cenários, geralmente lugares quentes e abafados. Num desses dias, ele, depois de flagrar um funcionário sem a sua camisa, deu-lhe uma bronca monumental e o demitiu na hora. Assim que Adolfo virou as costas, porém, o chefe do rapaz o tranqüilizou, dizendo que ele não se preocupasse, pois o velho estava gagá, ninguém mais o levava a sério, e que voltasse ao trabalho. Minutos depois Adolfo retornava e, vendo o rapaz trabalhando, outra vez sem camisa, aproximou-se dele, bateu-lhe no ombro e falou: "Meu filho, bote uma camisa, porque eu acabei de demitir um rapaz agora mesmo, que tava assim como você."


Cláudia Abreu costumava passear, no calçadão de Ipanema, no Rio de Janeiro, com sua minúscula cadela poodle. Até que um certo dia, surgindo sabe-se lá de onde, um gigantesco pastor alemão avançou sobre a cadelinha e literalmente a engoliu. Só com muita luta a atriz conseguiu tirar a bichinha aterrorizada de dentro da boca ensandecida do cachorrão. Passados seis meses, Cláudia encontrou-se, por acaso, com a dona do pastor, num desses jantares da vida. Nessa altura, claro, ela já não lembrava mais da fisionomia da dona do cachorro, e passou a comentar com ela sobre o incidente. Muito sem graça, a moça ouviu de Cláudia que a sua cachorrinha, depois de ter sido quase devorada por um pastor, não saía mais de casa, só ficava em baixo dos móveis, triste, deprimida, completamente traumatizada. Terminou de contar a triste história, e perguntou à moça se ela tinha cachorro. A dona do pastor, com a cara mais sem graça do mundo respondeu: "Tenho sim. Uma cadelinha pintscher". Virou as costas e saiu dali de fininho.


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