Entrevista com Miúcha

Entrevistada por Adriana Mello

Brasil em Cena: Você casou com o João Gilberto em 1965, portanto seis anos após o primeiro disco dele, que foi em 1959. Como você entrou na vida dele, o conheceu, foi fácil, você já estava no meio, como foi isso?

Miúcha: Eu era uma tiete assumida do João. Vinícius era muito amigo do meu pai, então ele ia sempre lá em casa, já o Tom e o João eram dois monstros sagrados. Naquela época nunca podia imaginar que ia gravar dois discos com Tom e casar com o João.

Em 1962 eu fui para a Europa, estudar a história da arte, e durante o verão uns amigos e eu fizemos uma viagem ótima andando pela Grécia e pela Itália, cantando nas ruas. Eu tocava violão, meu amigo tocava banjo e minha amiga tocava também com a gente. Ficamos procurando o João Gilberto. Saímos de Florença, e onde sabíamos que ele estava nós íamos, mas quando chegávamos lá ele já havia se apresentado e ido embora. Nunca o encontramos.

Na volta da viagem eu comecei a cantar, meio de brincadeira, num barzinho chamado "La Candelária", lá no Quartier Latin, onde se apresentava a Violeta Parra. Eu a conheci e fiquei amiga dos filhos dela.

Numa noite eu estava lá cantando e alguém levou o João Gilberto para conhecê-la, ela comentou que tinha em baixo uma "chica brasilenha" que tocava Bossa Nova, então ele quis dar uma espiada.

Depois pediu para falar comigo, nós conversamos uns dez minutos sem me dar conta que era o João Gilberto; aí foi aquela paixão total, porque ele também ficou interessado...

BeC: Como foi você assistir e participar tão intensamente da bossa nova?

Miúcha: Eu, na verdade assisti o nascimento de fora.

Nesse tempo eu morava em São Paulo e a bossa nova era uma coisa que acontecia aqui no Rio. Eu me lembro da primeira vez que ouvi "Bim Bom", no rádio do carro, depois "Chega de Saudade", que aquele som bateu em mim, como em um monte de gente como uma coisa inteiramente nova. As pessoas cantavam soltando a voz, uma coisa mais intensa, e de repente veio uma melodia inteiramente clean, low profile, um som bem discreto, e foi realmente um susto para a gente.

BeC: Para a gente quem?

Miúcha: Para uma geração toda. Eu falo, no caso, meus irmãos e eu, nós somos sete, e éramos muito ligados em música, nós sempre cantávamos juntos.

BeC: Porque vocês todos eram tão ligados em música?

Miúcha: Eu acho que umas das influências importantes que a gente teve foi justamente a presença do Vinícius nas nossa vidas, na nossa casa, desde sempre.

Meus pais também sempre gostaram de música, gostavam de cantar, eles se conheceram no Carnaval.

Então, quando juntava essa turma, eles sempre cantavam músicas antigas, e nós fomos aprendendo coisas que nunca ouviríamos no rádio. Noel, Lupiscínio, Ismael Silva, todos esses autores, nós fomos conhecendo em casa, mesmo. Ouvíamos e aprendíamos a cantar. Então, música era uma atividade comum, juntava todos os irmãos, nós gostávamos de cantar juntos, era uma festa. A idéia que tínhamos de música era que era a coisa mais alegre do mundo. E nós ficávamos assistindo, bebendo aquela coisa. Era aquela festa, a noite era uma beleza, todo mundo ouvindo música, todo mundo cantando, então ficou muito lúdico, e eu acho que naquela época nós sonhávamos cantar, eu queria ser bailarina, cantora, atriz, fazer filmes musicais, que era bem da época. Mas era mágico; não que eu fosse atrás; talvez acontecesse.

Acontecia na minha casa, eu tinha muita intimidade com aquilo. Eu me lembro do Vinícius nos mostrando as primeiras músicas de autoria dele, outras com parceria de Antônio Maria, na década de 1950, que ele cantava nas nossas rodas.

BeC: Nada profissional ainda?

Miúcha: Ainda não. A coisa estava vindo.

Eu achava muita graça porque o Vinícius era um intelectual de um grande vulto, um diplomata, um dos poetas mais conhecidos do Brasil, e ele tinha esse outro lado totalmente boêmio, não tinha nada de formal e sério; muito pelo contrário, era brincalhão, super humano, que gostava de dar risada, de cantar, de beber, de curtir a vida.

O Drummond tem uma definição maravilhosa dele, que é o único poeta brasileiro que viveu como poeta, sempre se apaixonando, aquela coisa intensa.

BeC: Conta sua história com Tom e Vinícius.

Miúcha: Com o Vinícius foi a vida inteira, rolou, pelo fato dele conhecer meu pai e freqüentar a casa.

O Tom era uma pessoa distante para mim, também porque eu morava em São Paulo nessa época da Bossa Nova, então era inatingível. Eu só bebia as melodias dele.

Eu vim a conhecer o Tom, acho que eu já estava casada com o João Gilberto, ou logo antes de casar, nos anos 60, nos Estados Unidos. Eu morei sete anos em Nova York. Quando eu separei e vim para o Rio, fiquei muito amiga do Tom.

Eu queria morar perto da praia, perto de um bar, e em Ipanema; perto do que restava da bossa nova.

E aconteceu tudo isso. Eu morava na Prudente de Moraes, quase esquina do bar "Garota de Ipanema", que chamávamos de "Veloso", e eu costumava ir sempre lá, o Tom ainda ia todos os dias, tomava um chopp de manhã, almoçava ali perto, voltava de tarde, então nós começamos a nos encontrar muito lá, e o Tom foi a pessoa que mais deu força para a minha primeira gravação.

Eu tinha começado a gravar nos Estados Unidos mas o disco acabou não saindo. Fiz uma faixa com o Sivuca, fiz outra com um pianista americano que me deu muitas dicas; ele acompanhou Sara Vaughan, e era mais ligado ao jazz. Isso foi muito importante para mim, foi uma outra concepção de cantar.

O Tom então, ouviu essas faixas que eu trouxe dos Estados Unidos, gostou, e cantávamos brincando. Ele fazia músicas, que não acabavam nunca. Eu me lembro da primeira música que nós gravamos juntos chama-se "O Boto", que foi de um disco dele chamado "Urubu". "O Boto" nós levávamos na brincadeira, porque ele fazia a letra e a música, mudava sempre a letra e nós gostávamos de fazer os vocais. Às vezes saíamos do "Veloso", íamos para a casa dele ou para a minha, nessa época eu tinha um piano, e ficávamos fazendo os vocais.

Em 1975 eu estava em Nova Iorque, gravando o primeiro disco com João Gilberto e Stan Getz e participando do festival de New Portland com o Stan Getz, quando o Tom apareceu para gravar um disco e nos convidou para gravar "O Boto", fazendo aqueles vocais. Então eu perguntei se "O Boto" já tinha ficado pronto porque a letra não tinha fim... E foi o primeiro trabalho que nós fizemos juntos, com o Klaus Ogman que é um tremendo arranjador, foi uma gravação muito bonita que abre esse disco do Tom, eu assisti todas as gravações; foi uma experiência incrível.

Uma parte desse disco, muito linda, foi gravada numa igreja, porque foi com uma grande orquestra e coro, na faixa "Saudade do Brasil", que eu acho uma das músicas mais lindas do Tom, por causa da acústica da igreja. Na verdade ela tinha sido uma igreja, então a construção era enorme e eles montaram um estúdio lá. Foi uma beleza eu ter visto ao vivo aquela coisa linda que ficou.

Depois de muito tempo, o Aluísio de Oliveira, que tinha sido produtor dos primeiros discos de bossa nova, esteve lá em casa com o Fernando Sabino e o David Neves me convidando para fazer um disco.

Começamos a pensar em pedir músicas. Eu logo pensei em pedir para o Tom, estava sempre com ele e sabia que o Tom não tinha nenhuma música nova. O Tom achou a idéia ótima mas ele só queria gravar uma música do Chico que era "Olhos nos Olhos", que todo mundo já tinha gravado naquela época.

Acabamos indo para o estúdio, gravamos "Olhos nos Olhos" e outra música do Tom "É Preciso Dizer Adeus". Foi tão bom que resolvemos continuar. Gravamos dois discos nessa brincadeira, ensaiando no "Veloso", depois íamos lá para casa ou para a casa do Tom.

Conversávamos, juntávamos os músicos, então foi aparecendo o Novelli que é contrabaixista e compositor, Nélson Ângelo, Paulinho Jobim, Danilo Caimmy.

Em 1977 começamos esse meu disco que fez bastante sucesso, chama "Miúcha e Antônio Carlos Jobim", Chico fez uma música para esse disco chamada "Maninha", o Tom e o Aluísio queriam que o Chico fizesse uma música bem pessoal, e ele não conseguia fazer a música.

O disco já estava pronto quando o Chico telefonou dizendo que tinha uma música; tiramos uma música do disco para colocar "Maninha", tem ‘Pela Luz dos Olhos Teus", que é uma música do Vinícius que é um sambinha e o Tom transformou numa valsa, fez um arranjo lindo, tem "Vai Levando", música do Chico e do Caetano, que nós criamos vários versos e até hoje eu tenho guardanapos que escrevíamos no "Veloso", a letra nos levava a inventar besteiras depois. Gravamos muitos versos que não existiam na letra original do Chico, e também foi um sucesso; e então fomos convidados para fazer o Canecão.

Nós ligamos para o Vinícius que estava na Europa com o Toquinho, e fizemos o show nós quatro. Ficamos mais de sete meses. Até hoje está registrado esse show como recorde de público no Canecão.

Depois o show foi para São Paulo e Mar del Plata, onde apresentamos durante um mês; então fizemos uma tourneé enorme pela Europa. Só em Paris ficamos dez dias fazendo o show.

Voltamos de novo para a Europa com o Baden Powel, que morava em Paris e incorporou o show também.

Infelizmente nosso plano de fazer o número dois desse show não pode se realizar, porque Vinícius nos deixou.

Sobrou tanto material do primeiro show, que pensamos em fazer um segundo, porque só as parcerias de Tom e Vinícius são uma coisa infindável.

BeC: O João Gilberto influenciou o Chico Buarque?

Miúcha: Eu acho que o João influenciou todo mundo que tinha uma cabeça um pouco musical.

O impacto que foi ouvir as músicas do João foi incrível. Eu ficava com o violão, Chico e eu, grudados na vitrola – uma Telefunken com pés de palito – tentando imitá-lo. E Chico foi muito mais rápido que eu. Ele pegou legal aquela batida do João.

Era a coisa mais importante do mundo a saída do disco do João; pegar a harmonia, a levada dele. Foi, sem dúvida, uma influência muito grande.

BeC: Você já compôs e cantou suas composições?

Miúcha: Como compositora eu sou das mais esporádicas. Eu já gravei com o Tom, uma música minha, chamada "Triste Alegria", em um disco que nós fizemos, gravei depois outro disco também que tem uma música que é o hino do bloco do Carnaval de Olinda chamado "Segura a Coisa que Eu Chego Já", que gravamos desde a primeira vez com Armandinho, depois eu gravei com a orquestra do maestro Duda lá em Pernambuco, que foi um frevo, e até hoje rola, até hoje sai o bloco, cantam a música.

Às vezes eu penso em compor, mas eu acho que é uma atividade que exige um tempo integral e eu teria certa dificuldade a essas alturas. Eu ia ficar muito crítica. Ainda mais conhecendo músicas tão maravilhosas. Mas de qualquer jeito a maneira como eu encaro a música tem um pouco de autoral porque você dá uma cara àquela música, a música vira sua . As palavras são suas, a história melódica emociona também, então eu não sinto necessidade de compor, porque eu me identifico totalmente quando gosto de uma música.

BeC: O quê mais marcou sua carreira?

Miúcha: Como show foi, sem dúvida, aquele com Tom, Vinícius e Toquinho no Canecão. Nesse período convivemos intimamente. Foi tudo muito gostoso; as viagens, as coisas que aconteciam. Nós ficamos muito unidos.

O show era bem engraçado, nós improvisávamos as falas durante o espetáculo, e nos divertíamos bastante.

Tinha uma música que eu cantava com o Vinícius, sentada num barzinho e de repente arrebenta a alça do meu vestido, o Vinícius percebeu e continuou cantando segurando a alça do vestido, e eu aflitíssima! Valia tudo, nós chorávamos de rir com o Vinícius!

Teve um dia que ele entrou e as calças dele caíram! Outra vez eu entrei no palco e tinha uma enorme barata e eu fiquei ali, olhando para a barata!

Foram dias das melhores lembranças, e parecia uma grande sala em que todos participavam das conversas, das músicas. Todo mundo ria, cantava junto... Foi uma experiência única como show, como vivência.

Éramos todos amigos com intimidade para fazer brincadeiras uns com os outros, fazer aquelas sacanagens, botar o outro numa sinuca e ficar rindo e vendo o que acontecia...

Tinha muito mais coisa nos unindo além da música, além da amizade, além de uma admiração mútua. Era uma força importante.

BeC: Qual o seu parceiro mais querido?

Miúcha: Tão difícil! Tinha muita gente boa.

Talvez o Tom tenha sido o mais querido, o mais constante. Ele era muito especial, porque ele adorava acompanhar – muitos músicos não gostam.

Ele fazia umas coisas que não sei nem traduzir, mas posso dizer que era de um extremo cavalheirismo, ele era de uma elegância, parece que esperava a hora de eu respirar para terminar o acorde. Ele criava com os silêncios dele. Era tão agradável; parecia uma dança.

Tudo ia se criando, ele tocava poucas notas, sempre muito econômico, mas quando ele tocava uma nota, um acorde, era do maior bom gosto, insuperavelmente bonito, não poderia ser outro.

Cantar acompanhada por ele era uma sensação muito maravilhosa que fazia com que eu me espantasse comigo mesma, porque ele conseguia tirar o melhor de mim.

Eu acho que tudo o que o Tom mais gostava era da palavra, ele tem letras incríveis, tipo "Águas de Março".

Ele fez em inglês um trabalho maravilhoso. Ele tinha descoberto que uma grande porcentagem das palavras em inglês são de origem latina, então ele resolveu fazer uma letra sem uma palavra de origem latina, e todas que tem um som, uma coisa meio onomatopaica, tipo uns barulhinhos. Isso é uma obra prima.

Onde Tom chegava se cercava sempre de dicionários, ele era apaixonado pela palavra. E a música já derramava nele.

BeC: E o Chico? Ele deu muito trabalho na adolescência?

Miúcha: Trabalho ele deu. O Chico era muito animado, as pessoas falam que ele é tímido, mas ele sempre foi muito popular, cheio de amigos, então tem muitas histórias, algumas encrencas.

Uma vez roubou um carro com um amigo dele, foi uma encrenca danada, meus pais estavam viajando, quando fui avisada fui para lá tirar Chico da prisão.

Ele era incompetente como ladrão. Ele foi fazer uma ligação direta, era a grande brincadeira dos meninos, pegar um carro, dar uma volta, mostrar para os amigos e deixar ali perto mesmo. Então eles estavam lá batalhando para fazer a ligação, passou a polícia e levou os dois, maior mico.

Eu crente que o Chico estava dormindo em casa, mas me ligaram cedo da delegacia dizendo que ele estava lá. Nem sei como consegui tirá-lo de lá. Acho que naquela época as coisas eram mais fáceis. Também todo mundo sabia que era uma brincadeira, mas foi fichado, saiu o retrato dele no jornal, essas coisas.

BeC: Como você vê a obra do Chico?

Miúcha: É uma obra maravilhosa, que continua. Cada vez ele fica mais fundo, musicalmente eu acho também que está se sofisticando muito, esse último disco eu acho uma maravilha, também sou fã do Luís Cláudio Ramos, que é o arranjador dele, eu já trabalhei muito com ele, nós somos amigos há uns trinta anos, e chegou a um entendimento ele com os músicos no palco, na gravação, fica muito bonito e ele está tendo um grande prazer com isso.

BeC: Você tem vontade de gravar com a sua filha Bebel?

Miúcha: Já gravei com a Bebel. Quando ela era pequena, a primeira gravação que eu fiz de um compacto duplo, em 1973/1974, ela entrou cantando comigo. Nós ensaiávamos em casa, a Bebel ficava lá desenhando e de vez em quando começava a fazer um vocal. Ficava tão bonitinho que nós resolvemos levar a Bebel para gravar também. Nessa época ela tinha uns sete ou oito anos. Mais tarde nós gravamos aquela música que o Chico fez com o Gil, "Cálice" que ficou proibida muito tempo, fizemos a gravação que liberou a música, a Bebel com uma voz bem de criança mesmo, ela tinha na época uns doze, treze anos, ficou lindo. Gravamos "Juju Balangandã", por sugestão de João Gilberto, uma cantiga de carnaval.

BeC: Você pensa em gravar mais com ela, depois que ela fizer esse disco?

Miúcha: Eu acho que vai rolar. Eu acho um peso esse negócio de pai, mãe, tio, tudo isso, uma penca de pessoas conhecidas, celebridades. A Bebel tem sentido isso na pele, é meio barra pesada, as pessoas querem que ela fique cantando só as músicas do João, que cante parecido comigo. Eu acho que ela está trilhando o caminho dela, nesse disco ela já mostra que é uma boa compositora. Nesse disco tem umas músicas novas dela, e gravou também "Samba e Amor" do Chico, "Samba da Benção" de Baden e Vinícius. O disco está bem a cara dela.

BeC: Vai ficar pronto quando, o disco?

Miúcha: Já está pronto. Já masterizou e tudo e vai sair em abril. Está agora em processo de capa, encarte, essas coisas.

BeC: E seu último disco, fale dele.

Miúcha: O meu disco mais recente, você sabe que não sou uma cantora de gravar muitos discos, mas quando pinta eu mergulho de cabeça, uma das coisas de que eu mais gosto é de escolher repertório. Esse último disco que fiz foi uma produção japonesa, eu tinha me apresentado no Japão e surgiu esse convite para fazer um disco, escolhendo tudo que eu quisesse cantar, o que é uma coisa muito rara.

BeC: Os japoneses adoram, não é?

Miúcha: Eles adoram, todos os meus discos já tinham saído lá, acho que foi o primeiro país onde todos eles saíram, depois do Brasil, foi lá no Japão. Foi uma experiência maravilhosa, porque veio o produtor para cá, Kasuo Yoshida, fizemos o disco com arranjos de Maurício Carrilho e do Jota Morais e uma faixa com o Luís Cláudio Ramos e o Franklin da flauta em uma música deles, chamada "Santo Amaro", com letra do Aldir Blanc. Como o Japão é muito ligado na Bossa Nova, com as outras músicas eu quis mostrar para eles que já existia uma tradição melódica nossa há muito tempo, essas músicas que nós gostávamos de cantar em casa, que o Tom gravou comigo, do Custódio Mesquita, Ary Barroso, que o João Gilberto cantava também. Eu tenho a impressão que essa bagagem musical do Brasil, que já vem de muito tempo, é que de uma certa forma aportou na Bossa Nova, e continuou depois da Bossa Nova. O Edu, o Chico e o Francis, um monte de gente que fez músicas impregnadas de brasilidade que já vinha de antes e mais o que a Bossa Nova trouxe, aquela coisa mais fresca, mais light. Nesse disco eu procurei músicas com que eu tivesse uma ligação afetiva muito grande, ou músicas que eu já cantava em criança, que eu cantava em shows e que por algum motivo nunca tinha gravado, como "Choro Bandido", do Chico e do Tom que é uma música que eu adoro e que já tem gravações maravilhosas, eu nunca pensei em gravar. Como nesse disco eu poderia gravar o que quisesse, resolvi que era a hora. Gravei Paulinho da Viola, e uma música que adoro do Ismael Silva e do Antônio Maria, que é "Valsa de uma Cidade", que fala do Rio de Janeiro naqueles tempos de que estávamos falando, mais boêmio, mais alegre, sem violência. O disco funcionou muito, e o título é uma música de Capiba e Carlos Pena Filho, que eu canto desde criança, "Rosa Amarela". O disco está indo muito bem, foi muito bem recebido no Japão, vendeu muito bem, eu fui para o lançamento, e aqui está sendo distribuído pela BMG Ariola, saiu na Espanha também. Eu já fiz show desse disco em São Paulo, vou fazer agora no Rio, no Mistura Fina em abril. Antes disso vou me apresentar no Garden Hall com o Baden Powell, nos dias 30 e 31 de março. Estou agora com três discos lançados, eu fico dez anos quieta, e de repente sai muita coisa ao mesmo tempo. Saiu "Rosa Amarela", saiu um disco em homenagem ao Vinícius de Morais, que chama "Vivendo Vinícius" de um show que fizemos, os parceiros Baden, Carlinhos Lyra, Toquinho e eu representando a parceria com Tom Jobim, cantando as músicas do Tom e do Vinícius. Foi feito um disco muito bonito, um com uma coletânea de antigas músicas que eu tinha feito com o Tom nesse período de 77 a 79, músicas que nunca tinham saído em CD. É chamado "Focus", o essencial de Miúcha e Tom Jobim". Então agora estou com três discos lançados, trabalhando bastante, estou voltando do Chile, fiz uma apresentação maravilhosa lá com a Orquestra Sinfônica Juvenil e Quatorze Cordas, e vou voltar em para lá em maio, tive um convite para apresentar o mesmo show com um conjunto brasileiro e mais as Quatorze Cordas Chilenas com arranjos do Marinho Boffa muito bonitos.

BeC: Quando vai ser sua apresentação aqui no Rio?

Miúcha: Aqui no Rio eu vou fazer o Mistura Fina, a data é que não sei muito dizer, vai ser lá pelos dias 19, 20 e 21 de abril. Vai ser o lançamento no Rio do disco "Rosa Amarela".