Entrevista com João Brandão

João Brandão, carioca de 38 anos, é ator, diretor e autor teatral. Há dez anos é professor no Tablado, de Maria Clara Machado, onde trabalha com adolescentes. Já dirigiu vários grupos jovens, e com um deles, o espetáculo "2 Fernandos & 1 Fernandes" ganhou o prêmio de melhor diretor do Festival Estudantil do Rio. Depois disso, foi convidado por Daniel Filho para fazer a direção de diálogos e escrever alguns episódios da série de TV "Confissões de Adolescente", co-produção brasileira com a televisão francesa TF-1. Alguns de seus ex-alunos já fazem sucesso, atuando em importantes novelas da televisão, como as atrizes Camila Pitanga, Flávia Monteiro, Flávia Alessandra, Juliana Martins e Georgiana Góes, e os atores Pedro Brício e Ângelo Paes Leme. Como ator, João Brandão participou do curta metragem "Lá e Cá", de Sandra Kogut, ao lado de Regina Casé. No teatro, atuou na peça "A Gaivota", sob a direção do inglês David Herman. Como diretor, João Brandão foi responsável pelo primeiro espetáculo do grupo circense Intrépida Trupe em tournê na Europa. Numa co-direção com Pedro Paulo Rangel, também assina a direção cênica do grupo vocal Garganta Profunda. Fez assistência de direção de Mauro Rasi para a peça "Arte", grande sucesso no Teatro das Artes.
BeC: Quando você entrou para o Tablado, no final dos anos 70, você já pensava em escrever e dirigir, ou apenas em atuar?

João Brandão: Quando eu entrei para o Tablado, em 1978 (aos 17 anos), eu queria mesmo atuar. Mas desde os 12 anos, eu já escrevia meus "pensamentos" num livro de capa dura e com as páginas todas em branco que meu irmão havia me dado. Aliás, meu irmão foi, no início de minha adolescência, uma espécie de mentor intelectual. Foi ele quem me deu o primeiro livro para ler (A Ilha do Tesouro) e as primeiras noções sobre política. Com 14 anos escrevi a minha primeira tentativa de peça teatral, mas não tinha conhecimento algum sobre dramaturgia, tudo de forma muito intuitiva. No Tablado entrei na turma e posteriormente no grupo de Louise Cardoso e ela sempre incentivava os alunos a escrever e tentar esboçar as marcações das nossas cenas. Era a época das criações coletivas.

BeC: Como é se dividir entre as atividades de autor, ator, diretor, e professor de teatro?

João Brandão: Não é muito complicado porque são atividades interligadas. Quando escrevo, por exemplo, sempre imagino a movimentação dos personagens, o cenário, a luz, etc. A história aparece completa na minha cabeça e isso pra mim ajuda muito. Às vezes, quando estou dando aula, surgem, através dos alunos, idéias para algum texto. Outra forma que administro todas essas funções é através da ocasião. Há períodos em que sou convidado mais como diretor, ou ator, então essa atividade ganha mais espaço, naturalmente. Gosto muito de todas essas funções, mas talvez atuar seja a mais divertida, na minha opinião.

BeC: E trabalhar com jovens e adolescentes que estão se iniciando na carreira?

João Brandão: É uma atividade com retorno gigantesco, tanto no nível profissional como no lado mais humano. Os adolescentes estão em formação, e por isso mesmo são mais abertos às novas idéias e experiências. Quando dou aulas para adultos noto que o nível de resistência é grande e os bons resultados ficam mais difíceis de serem alcançados. Com os adolescentes percebo que não é apenas o ator que está sendo trabalhado, mas também o ser humano. Trabalho principalmente para que eles tenham segurança para tentar encenar suas idéias e expô-las sem medo ou autocrítica exagerada. Trabalho neles a confiança para errar, sem ter medo ou culpa. Em teatro é sabendo reconhecer o que é errado que se chega ao certo.

BeC: Como nasceu o projeto de escrever e realizar a peça Endependência, e qual o balanço que você faria dessa realização?

João Brandão: Eu tive a idéia de escrever esse espetáculo porque, já há algum tempo, desde que comecei a dar aulas no Tablado, em 1987, precisava escrever peças que tivessem personagens para os 35 alunos que eu tinha na turma. Isso se tornou um ótimo exercício de texto. Alguns anos depois formei o Troglô, um grupo com 15 adolescentes. Sempre que surgia uma safra de bons alunos, eu me animava a escrever uma peça. Com o Endependência foi mais ou menos assim. Escrevi a peça em 1996, mas na época as coisas não deram muito certo e esse texto ficou engavetado até 1998, quando me pediram para fazer a leitura de algum texto no Ciclo de Leituras do Tablado. O resultado foi acima do esperado e as pessoas deram a maior força para que montássemos a peça. E as coisas, quando têm que acontecer, não tem jeito. Em um pouco mais de um mês ensaiamos e produzimos todo o espetáculo. Foi uma espécie de gincana maluca em que tive muita sorte porque o elenco e a equipe foram de um profissionalismo impressionante.
A peça Endependência estreou no dia 19 de janeiro de 99 no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, e encerrou essa primeira temporada na segunda semana de abril. Tivemos um saldo bastante positivo. Todas as críticas foram extremamente favoráveis e mais de 3 mil pessoas assistiram ao espetáculo. Vamos iniciar agora uma segunda etapa. Estaremos estreando dia 18 de maio no Teatro Faculdade da Cidade (antigo Teatro Delfim). Faremos também sessões especiais, com preços promocionais, para as escolas. Estão previstas viagens para outras cidades do país.

BeC: Quais seus próximos projetos?

João Brandão: Meus próximos projetos serão a montagem do espetáculo "Los Pintores", com texto e direção de minha autoria. A peça se propõe a contar de forma cômica a história da pintura mundial em menos de uma hora. Será um espetáculo com grande valor educativo. No mês de julho vou iniciar um curso para atores, de interpretação para o vídeo. Esse tipo de curso é resultado do trabalho que fiz para o Daniel Filho, no seriado para TV "Confissões de Adolescente", durante 3 anos e que atualmente estou fazendo para a Rede Globo, dirigindo os atores iniciantes da novela "Andando nas Nuvens".