Entrevista com Regina Sauer

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Regina Sauer é bailarina, coreógrafa e professora de dança. Estudou dança no Brasil e nos Estados Unidos, onde especializou-se em Dança Moderna, Jazz e Teatro no Alvin Ailey American Dance Theater e Marta Graham Dance School, escolas de dois mestres da dança moderna.
No Brasil fundou a companhia "Nós da Dança", desenvolvendo nos últimos 18 anos um trabalho aplaudido pela crítica e público.
Sua escola se chama Centro de Artes Nós da Dança, seu endereço é Rua Siqueira Campos 43 sala 921, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. Telefone para contato (021) 255-3493

Entrevistada por Adriana Mello

Brasil em Cena - Regina, fale um pouco de sua carreira.

Regina Sauer - Eu sou diretora e professora do Centro de Arte "Nós da Dança", que é uma escola de dança com ballet clássico, moderno e sapateado. Temos alunos desde iniciantes até profissionais - temos muitos profissionais.

Tenho também uma carreira paralela de coreógrafa, coreografo eventos como desfiles e shows, trabalhos para teatro, televisão, como vinhetas, sou também convidada para dar cursos pelo Brasil afora. Já estive pelo Rio todo dando cursos. Estive em Campo Grande, Joinville, Belém do Pará várias vezes. Sou muito convidada para dar cursos de jazz ou moderno em outras cidades. No moderno eu ensino as técnicas de Lester Horton e Martha Graham.

Já fui bailarina anos da minha vida, agora fazem dez anos que eu estou parada mas dancei muito tempo. Fiz vários eventos, de óperas à espetáculos de companhia.

Formei a companhia "Nós da Dança" que está fazendo dezoito anos e já apresentou mais de quinze espetáculos completos – de uma hora e meia – em vários teatros aqui do Rio em temporadas diferentes. Em 1981, quando começou a companhia, apresentamos o espetáculo "Rio in Concert", depois apresentamos "Fração de Segundos", "Nós da Dança" e "João Joana". "João Joana" era um espetáculo com história de Carlos Drummond de Andrade, baseada em literatura de cordel, com música de Sérgio Ricardo composta especialmente para o espetáculo. Depois fizemos o espetáculo "Nossos Nós" com muitas músicas do Milton Nascimento e "Vidas" com músicas de cantadores nordestinos. Um dos cantos, chamado "Cantoria" dá nome ao ballet. Fizemos depois "Estação", com "As Quatro Estações" de Vivaldi e músicas do Cartola, compositor da Mangueira. Fizemos o espetáculo "Místico", "Inside" e foram esses. Então temos muita bagagem.

BeC - Como você escolhe o grupo que vai participar do espetáculo? Qual o seu critério?

R. S. - Como aqui formamos bailarinos, a maioria tiro daqui da escola, entre os que já estão num nível profissional. Prefiro trabalhar com gente que já conhece o meu ritmo de trabalho, minha forma de dança, minha linguagem.

BeC - Quando você começou? Como aconteceu de você dar aulas?

R. S. - Comecei a dança com três anos, como toda criança, depois vi que era isso mesmo que eu queria e fui para os EUA me aperfeiçoar, ver como era a dança por lá. Fiquei deslumbrada vendo a seriedade com que eles tratavam a dança. Naquela época, no Brasil ainda havia muito amadorismo, então eu procurei trazer para cá essa maneira mais profissional de ver a dança.

Depois que voltei comecei a batalhar. Formei minha companhia, comecei a trabalhar com ela. Alguns anos depois abri a escola com o meu marido Fernando Filetto, e dava aulas buscando um aperfeiçoamento maior dos bailarinos, uma visão de mais seriedade em que os bailarinos teriam que fazer aulas todos os dias, se dedicar realmente, não ser só um hobby. Há três anos a Beth Oliozi faz parte aqui da escola, é nossa sócia.

Dança exige muita dedicação, é uma paixão, quase um sacerdócio. Você tem que se dedicar muito até ver o resultado, não é de uma hora para outra. Por mais que você tenha talento, o trabalho tem que ser muito intenso. Não é só fazer aula, mas todo um aprendizado, de você ver outros ballets, outras companhias, de você ler sobre artes em geral, é um trabalho muito abrangente e que não se faz à curto prazo. Se as pessoas perguntam "em quanto tempo eu vou estar formado?", são anos na vida da gente; pelo menos de seis a oito anos em que você tem que se dedicar à isso intensamente, dia a dia, o dia inteiro. Para alcançar um resultado positivo você vai desenvolvendo mais o seu trabalho, a sua linguagem, a sua maneira de fazer. Não tem fim.

BeC - O que você mais gosta de fazer e qual o seu espetáculo mais vibrante, mais emocionante?

R. S. - Como bailarina, eu fiz muitas coisas, mas o que me marcou muito foi o espetáculo musical "Dona Flor e Seus Dois Maridos" onde eu era Dona Flor. Tinha texto e dança, eu adorei fazer especialmente pelo desafio de fazer texto. Gosto muito também de fazer trabalhos para a televisão. São trabalhos com características diferentes, rápidos, e têm que ser interessantes, chamar atenção. Eu já fiz vinheta para o Natal, abertura de programas, já fiz vídeo clip, são coreografias que eu gosto muito de criar. Além disso, eu gosto muito de coreografar para companhias; são trabalhos mais sérios, posso desenvolver uma linguagem melhor, ir um pouco mais a fundo no tema. Gosto de trabalhar nesses dois níveis, coisa rápida e também aprofundar coreografias, acho que é sempre bonito.

Eu gosto muito de vários trabalhos que fiz com a companhia. Em um deles tem um número que chama "Místico", todo em cima de músicas new wave, de que gosto muito, eu mostro um pouco o que vem acontecendo nos últimos anos, uma visão do mundo, da vida do homem, do nosso pensamento. É bem interessante e chama a atenção.

BeC - Você tem algum projeto para o futuro?

R. S. - A companhia foi convidada para um festival em Miami, o "Festival Latino" e estamos viabilizando a ida para lá. Achamos muito interessante ir a Miami para mostrar as nossas coreografias. São trabalhos pequenos, vai gente do mundo inteiro; vou levar duas ou três coreografias para apresentar lá. Este é um projeto próximo e estamos batalhando muito para ver se conseguimos dançar lá.

Acho importante um projeto que desenvolvemos aqui na escola para trazer mais rapazes para a dança. Esse projeto, chamado "Homens na Dança" é gratuito para quem estiver interessado; todo começo de ano tem audição para rapazes virem fazer aula na escola mesmo que nunca tenham feito nada, para desenvolver a participação dos homens na dança e colocá-los no mercado de trabalho. Já temos vários rapazes trabalhando profissionalmente, com um ano só de trabalho aqui na escola. É um projeto muito lindo que estamos fazendo, investir nesses rapazes para que eles venham a ser bailarinos profissionais.