Pesquisar: verbo transitivo

Lionel Fischer        

Considerado o mais importante encenador contemporâneo, o inglês Peter Brook define o teatro como "a arte do encontro". Com isto, ele pretende apenas explicitar algo que, embora óbvio, nem sempre é compreendido pelos que lidam com as artes cênicas, ou seja: que a essência do fenômeno teatral reside na possibilidade de alguém (no caso, um ator) expressar algo de significativo para aquele que o assiste (o espectador).

Na ausência, portanto, de um conteúdo que valha a pena ser abordado – para ambas as partes envolvidas no jogo teatral –, o máximo que pode ocorrer é um entretenimento sem nenhum alcance, que já terá sido esquecido antes mesmo de ter sido degustada a próxima pizza.

Mas é claro que idéias e sentimentos precisam ser expressos de forma a serem corretamente apreendidos. E aqui se configura a maior armadilha que costuma aprisionar grupos jovens, que em sua natural e compreensível ânsia de rejeitar caminhos já trilhados, muitas vezes enveredam por outros cuja tônica é um insuportável hermetismo.

Estamos nos referindo a trabalhos rotulados como "de pesquisa". Em sua esmagadora maioria, eles têm como resultado algo que só o próprio grupo – e seus familiares e amigos, desde que antecipadamente prevenidos – chegam a compreender. E por uma razão simplíssima: o lamentável desconhecimento das premissas inerentes ao verbo "pesquisar".

Sendo tal verbo transitivo, ele pressupõe a existência de um objeto. Ou seja: quem pesquisa, pesquisa alguma coisa. Assim, se pretendo oferecer um jantar a um amigo que gosta de pratos orientais, eu farei uma "pesquisa" neste sentido, selecionando determinados ingredientes em detrimento de outros, sem jamais perder de vista a predileção do convidado e meu objetivo em satisfazê-la. Mas se minha pesquisa é aleatória, confusa e sobretudo destituída de uma finalidade, todo o meu suposto processo criativo será caótico e seus resultados jamais escaparão à mais completa catástrofe.

Assim, para evitar que todo um esforço coletivo se perca ante a indiferença ou irritação de uma platéia – que paga ingresso, não nos esqueçamos –, é recomendável que jamais se esqueça a célebre frase do diretor inglês, que sintetiza de forma exemplar o que pode haver de mais essencial nesta fantástica e imprescindível atividade que é o fazer teatral.

Lionel Fischer é professor no Tablado e crítico de teatro.